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Esta é a evolução dos sistemas utilizados por Alessandro Zanardi nas corridas!

Em 2001 ocorreu um acidente em Lausitzring, que fez com que o piloto ficasse sem as duas pernas. Desde 2003 que Alessandro Zanardi tem trabalhado em conjunto com a BMW e conduzido automóveis adaptados às suas necessidades. Durante todos estes anos, o piloto e os engenheiros da BMW Motorsport têm aperfeiçoado continuamente os sistemas que lhe permitem competir. É hoje que o piloto Alessandro Zanardi se senta ao volante do BMW M8 GTE para as míticas 24h de Daytona, este será um dos pontos altos da sua invejável carreira que se aproxima do fim.

“Quando acordei e percebi que não tinha pernas, não me perguntei: o que vou fazer sem as pernas? Em vez disso, pensei: Ok, o que é que é preciso fazer para poder fazer tudo o que quero sem pernas ?”, disse Alessandro Zanardi, lembrando-se do acidente de 15 de Setembro de 2001.

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Nos planos do piloto estava incluído um rápido regresso às corridas. Como seria de esperar, Alessandro Zanard deparou-se com uma série de pessoas cépticas relativamente ao seu regresso às corridas. Um piloto sem as duas pernas seria algo novo no mundo do automobilismo: “As pessoas tinham medo que algo me pudesse acontecer. No entanto, se eu partir uma perna, tudo que eu preciso é uma chave de fendas para a consertar ”, explica Alessandro Zanardi rindo-se. “Quando quis voltar à competição, tive de realizar inúmeros exames para obter a licença desportiva. Eu senti que toda a gente estava apenas à procura de uma “desculpa” para dizer: “Desculpe, mas não é possível o senhor voltar às corridas”. Quando decidiram examinar a minha cabeça eu disse-lhes: “Ei pessoal, eu perdi as minhas pernas no acidente, não a minha cabeça!”

“Nem todos deixaram de acreditar em mim”. Em Munique, Alessandro Zanardi foi recebido de braços abertos. “Tive a sorte de encontrar uma marca fantástica como a BMW, que se interessou pelo meu projecto. Eles estavam realmente interessados em fazer algo mais do que apenas mostrar o quão avançados tecnicamente eram os seus métodos e quão bons eram os seus automóveis. Naquele momento interessou o que eu precisava e aqui estou eu agora.”

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A história começou em 2003 com o BMW 320i, juntamente com a BMW Motorsport e a BMW Team Italy-Spain. Alessandro Zanardi planeava correr no final da temporada do European Touring Car Championship (ETCC) em Monza. “Ao inicio, pensei que teria de fazer tudo com as mãos. Com o primeiro sistema, eu estava a travar com um anel no volante. Eu utilizei outro anel para acelerar e para trocar de caixa com a mão direita, a caixa era em “H”. Os meus dedos ficavam encarregues da embreagem, através de um botão colocado no punho da caixa de velocidades. Eu estava a conduzir apenas a utilizar o centro dos meus polegares ”, lembra Alessandro Zanardi. “Foi demais. Quando voltei para a BOX após o primeiro teste, eu disse aos técnicos: ‘Tenho muito que fazer, uma vez que estou a utilizar os braços e as mãos, mas se colocarem uma escova no meio das minhas pernas, até consigo limpar o cockpit.”

E foi assim que Alessandro Zanardi sugeriu a utilização das pernas artificiais: “Os engenheiros estavam um pouco cépticos, mas eu tinha certeza que podia aplicar força suficiente no pedal do travão se a minha perna artificial estivesse presa e eu pudesse usar os quadris para aplicar pressão. Tudo o que tínhamos de fazer era desenvolver um pedal de travão no qual a minha perna artificial ia ficar permanentemente presa. Esta medida provou ser bastante eficiente. Percebi logo no primeiro teste que não só apliquei a pressão necessária, como também me surpreendi com a capacidade de controlar a pressão e sentir o pedal do travão ”.

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O sistema foi escolhido: um anel no volante foi utilizado para acelerar, os travões foram comandados através da sua perna artificial e do pedal do travão e a caixa de velocidades em H foi comandada com a mão direita. Este sistema foi então utilizado em competição no ETCC de 2003 a 2004 e depois de 2005 a 2009 no Campeonato do mundo de carros de turismo (WTCC), no qual Zanardi obteve quatro vitórias com o BMW 320i e BMW 320si. Ao longo dos anos, o sistema foi sendo optimizado.

O piloto italiano esteve parado de 2010 a 2014 e quando anunciou o seu regresso ao desporto automóvel foi correr na Blancpain Sprint Series com o BMW Z4 GT3, onde se transferiu os sistemas utilizados no WTCC para o GT3. Houve algo que ficou mais fácil uma vez que a caixa em “H” deixou de ser utilizada e passaram a haver patilhas atrás do volante.

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Em 2015 teve de dividir o automóvel com Timo Glock e Bruno Spengler nas 24h de Spa-Francochamps. Uma vez que tinha de dividir o cockpit com os outros pilotos, a BMW teve de adaptar o interior do automóvel de corridas de uma forma bastante inteligente.

“Mostrei aos engenheiros em Munique a minha perna artificial, que é um tubo oco, e sugeri que se substituísse o pedal de travão por um sistema, no qual uma espécie de pino era inserido na prótese”, relata o italiano. “Eles abraçaram a ideia e desenvolveram um pedal de travão muito fino para mim, que foi montado à direita do modulo dos pedais. O Timo Glock e o Bruno Spengler utilizaram os pedais normais de acelerador e travão no meio dos pedais. ”

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Os dois pedais de travão foram ligados e movidos simultaneamente. O pedal da embraiagem também foi removido completamente do módulo dos pedais e substituído por um sistema de embraiagem a cabo. Este sistema foi comandado através de duas patilhas. Em vez do pedal da embraiagem, foi colocado um apoio para os pés à esquerda. Estas alterações ofereceram a Zanardi um apoio extra durante a travagem. O volante de Alessandro Zanardi também era completamente novo em Spa-Francochamps. Teve como base volante que utilizou anteriormente no BMW Z4 GT3, mas foi melhorado em muitas áreas.

Quando Alessandro Zanardi se estreou no BMW M6 GT3 em 2016, o sistema foi melhorado novamente. O actuador da embraiaagem foi substituído por uma embraiagem centrífuga totalmente automática, que foi desenvolvida pela ZF, Premium Partner da BMW M Motorsport. O condutor deixava de intervir com a embraiagem. Para Zanardi, o sistema traz o grande beneficio do piloto não ter de controlar a embraiagem.

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“É surpreendente como este mecanismo funciona bem. Esta embraiagem é extremamente fiável. O desgaste é mínimo e, portanto, há menos problemas com esta solução do que com uma embraiagem “normal”. Desde que a instalámos no carro, ela realizou o seu trabalho na perfeição. Quando se arranca a seguir à paragem na box, é impossível desligar o motor. Além disso, não importa se os pneus estão frios ou quentes. Sempre que se retoma, esta embraiagem pode gerir o arranque tão bem ou melhor que uma embraiagem normal ”.

“O sistema que nós tínhamos colocado permitiu-me ser rápido durante várias voltas. Mas, para ser honesto, foi realmente difícil conduzir todo aquele tempo, para conseguir ajudar a minha equipa durante uma corrida de 24 horas ”, diz Zanardi. Como o piloto não tem pernas, não tem extremidades importantes, que ajudam a arrefecer o corpo através da circulação sanguínea. Além disso, os encaixes justos da suas pernas artificiais não permitem nenhuma transpiração: “Sempre que saia do carro, eu estava completamente cozido”.

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Ficou claro para Zanardi que ele seria capaz de conduzir durante mais tempo, sentindo-se confortável no seu automóvel sem utilizar as próteses. O piloto italiano sentou-se com os engenheiros da BMW Motorsport em Munique e criou um sistema completamente novo: um sistema que iria permitir a Zanardi conduzir apenas com braços e mãos. O que tinha sido um grande problema no BMW 320i em 2003, devido à caixa de velocidades em H, deixou de o ser com o aparecimento das embraiagens modernas que abriram novas possibilidades a Alex Zanardi. Este sistema foi testado inicialmente no BMW M6 GT3 e foi testado também mais tarde quando o piloto italiano foi convidado para estar ao volante do BMW M4 DTM em Agosto do ano passado em Misano. Todos estes testes serviram como uma “preparação” para o que ai vinha… Estar ao volante do BMW M8 em provas de resistência como a deste fim-de-semana, as 24h de Daytona.

Este fim-de-semana o pedal de travão foi substituído por uma alavanca para a travagem, em que o piloto Alessandro Zanardi empurra para a frente com o braço direito para travar. Este sistema é montado no túnel de transmissão e está conectado à travagem. Zanardi vai acelerar através de um anel de aceleração no volante, que é operado com a mão esquerda. Consegue ainda trocar de caixa utilizando as patilhas do volante. Ao mesmo tempo, um interruptor está ligado à alavanca de travagem.

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Graças ao sistema de travagem com a mão implementado no BMW M8 GTE, os problemas físicos de Alessandro Zanardi já não são um problema nas corridas. “Se os regulamentos permitissem, eu podia fazer uma corrida de 24 horas sozinho”, diz Alessandro Zanardi, cheio de boa disposição. “Estou muito confortável no carro sem as minhas pernas artificiais. É obviamente um pouco mais complicado, porque tenho muito para controlar com os braços e as mãos, mas do ponto de vista físico é canja! ”.

Dos projectos iniciais em 2003 ao sistema de travagem na mão do BMW M8 GTE, o desenvolvimento nunca ficou colocado de lado nas provas de Alessandro Zanardi. Para o italiano, ser capaz de conduzir um GT sem as suas próteses é como “vencer a corrida”. No entanto, Alessandro Zanardi faz questão de frisar que nada disto teria sido possível sem os incansáveis esforços dos engenheiros da BMW Motorsport: “É óbvio que é preciso habilidade e esforço, mas acima de tudo, é precisa muita paixão. Quando os engenheiros estão a levar o trabalho para casa com eles e para as suas famílias, isso mostra como estão empenhados e apaixonados. O que temos aqui é o resultado de uma enorme quantidade de compromisso e paixão, juntamente com uma experiência imensa!”

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O sistema de travagem nas mãos abre uma nova possibilidade não só para Alessandro Zanardi como também para todos os condutores que não possam utilizar as pernas.

Quando Alessandro Zanardi quis correr depois do acidente, foi recebido com muitas duvidas. Algo que não aconteceria nos dias de hoje: “Foi um longo caminho, mas acredito que o que alcançamos também criou novas possibilidades para os outros. Já ninguém pergunta se um piloto com deficiência pode correr. Frederic Sausset teve os braços e as pernas amputados e ainda correu nas 24 Horas de Le Mans em 2016 ou o Billy Monger. A única coisa que as pessoas querem saber hoje em dia é o quanto os pilotos são bons, independentemente das deficiências, pois essas podem ser superadas com soluções especiais.”

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